Nem as sucessivas invasões, nem o terramoto de 1755 conseguiram descaracterizar o burgo medieval de Óbidos, erguido protegido de tudo e de todos pelas suas majestosas muralhas. No entanto, esses acontecimentos deixaram marcas — algumas bem profundas. Talvez por isso, recorra-se frequentemente a arquitetos para restaurar espaços, preservando a traça original. Hoje, isso tornou-se essencial.

Assim começa a história de uma das casas mais emblemáticas de Óbidos: o Bar Lagar da Mouraria, situado no centro histórico da vila, cuja origem remonta ao século XVII.

Hoje, o Bar Lagar da Mouraria é um negócio familiar, desenvolvido por alguém que ao longo da sua vida investiu e lutou durante anos para o erguer: o meu avô. A tentativa de destruição contemporânea foi real, mas falhou — e ele conseguiu adaptá-lo às necessidades da atualidade.

Em 1982, encontrou uma casa em ruínas e, por estar intimamente ligado ao fado, decidiu recuperá-la, prometendo a si mesmo que o Lagar seria, para sempre, uma Casa de Fados. Desde esse momento, o fado passou a ter lugar na vila de Óbidos.

O Lagar conserva a vara, o fuso e a pedra original onde as uvas, trazidas por tração animal e despejadas pela janela, eram transformadas no tão conhecido vinho, que escorria nas pias de pedra. No fuso, rodavam vários homens, dada a dificuldade em levantar a pesada pedra para esmagar as uvas. Além do vinho, produzia-se também aguardente, num alambique que ainda hoje se encontra no estabelecimento.

Esta casa, outrora habitada por mouros e por uma moura, recebe atualmente visitantes dos quatro cantos do mundo — pessoas que procuram, através do turismo, uma forma diferente de conhecer a história do nosso país. E que melhor lugar para ouvir fado e saborear a famosa Ginja de Óbidos do que esta casa, considerada por muitos a Catedral do Fado do Oeste?

Além destes visitantes, passam também pelo Lagar forasteiros de Caldas da Rainha, campinos do Ribatejo e os habituais frequentadores de Óbidos. E, como dizia José Mário Branco:
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.”